sexta-feira, 10 de abril de 2020


A Mídia e os Impactos Emocionais  na População


Indiscutivelmente vivemos uma grave crise mundial na área da saúde pública, sem precedentes comparáveis na história, em decorrência da propagação em alta escala da COVID -19. É flagrante também as limitações do poder público em todo o mundo para conter a atual crise. Apesar dos grandes avanços científicos ocorridos na área da saúde, tem se tornado cada vez mais evidente a falta de   infraestrutura necessária para dar suporte as ações preconizadas pelos cientistas. Não obstante os avanços da ciência supra referidos a maior parte da população mundial vive às margens dos benefícios que eles são capazes de proporcionar, sem contar que um contingente significativo dessas pessoas vive ainda na fronteira entre a ignorância total e o pouco desenvolvimento intelectual.
Diante deste cenário, não se pode negar, por nenhuma hipótese, a importância da grande mídia na veiculação de informações educativas, orientadoras da população no tocante aos procedimentos, que devem aprender a adotar, para se protegerem dos riscos da contaminação pelo coronoavirus . Mas o que se espera de uma mídia madura, consciente do seu verdadeiro papel social é uma atuação equilibrada, isenta de sensacionalismo e que evite a divulgação de informações contraditórias sobre um mesmo tema, a partir de fontes de informações de base científica contestada por respeitáveis autoridades daquela área especifica de conhecimento.
Por outro lado, acompanhamos diariamente nos noticiários, a exploração destacada da doença, das mortes e do caos mundial, que tanta audiência tem proporcionado aos meios de comunicação, principalmente num momento como esse, em que grande parcela da população brasileira está recolhida em seus lares, com bastante tempo disponível para acompanhar a programação televisiva.  Além do que, esses meios de comunicação têm necessidade de desenvolver estratégia competente para o enfrentamento da crise, em função da grave recessão econômica que estamos vivendo. Nesta perspectiva, o quadro de pessoal das empresas foi reduzido, as programações foram cortadas e o espaço do telejornalismo foi excessivamente aumentado, carecendo, portanto, de esforços impactantes para manter suas audiências em níveis que lhes assegurem a rentabilidade econômica almejada. Mas este cenário difícil não justifica a atual linha editorial de determinados telejornais que priorizam a exploração do caos mundial produzido pela corona vírus, mesclado com pitadas de exemplos de solidariedade humana, incapazes de reduzir o grande impacto negativo gerado pelo conjunto das notícias veiculadas naquele noticiário.
Se prestarmos atenção ao noticiário desde 26/02/20, quando o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus em nosso País, perceberemos que o seu enredo é praticamente mesmo, mudando alguns personagens.  Permanece o mesmo destaque ao número de vítimas e aos traumas causados pela Covid-19, mesclado com informações educativas alinhadas com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde. No entanto é mister ressaltar, que nos últimos dias a mídia nacional, tem dado uma ênfase as medidas governamentais adotadas para diminuir os impactos da recessão econômica sobre as empresas e trabalhadores, veiculando de forma pedagógica informações preciosas, para que as pessoas possam usufruir dos seus direitos. Mas o tom do noticiário continua o mesmo, confuso e contraditório gerando polêmicas descabidas entre autoridades da área política, econômica e científica confundindo a cabeça da população e desgastando pessoas que desempenham importantes papéis para superação da atual crise.
 Neste sentido é suficiente relembrar do que ocorreu dias atrás quando de forma correta e equilibrada o Ministro da Saúde  Luiz Henrique Mandetta falou em sua entrevista habitual de que o Ministério estava estudando a definição de critérios para o retorno gradual de atividades em determinadas  regiões do Brasil, naturalmente aquelas que se enquadrassem nos parâmetros estabelecidos pelo Ministério , nada mais obvio e racional em termos de estratégia de planejamento, se organizar para o abrandamento das medidas restritivas à  mobilização  social nas regiões que estivessem  fora da faixa de risco de acordo com os critérios definidos pelo Ministério.
Não sei se todos estão lembrados da polêmica que o noticiário consegui fomentar sobre essa declaração do Ministro da Saúde. Ocorre que no dia seguinte, em nova entrevista o Ministro Mandetta  destacou que em cerca  de 86% dos municípios brasileiros não havia sido detectado um único caso de pessoas infectadas pelo coronavirus, portanto era legitimo que estes municípios pudessem estudar, em sintonia com as diretrizes propostas pelo Ministério da Saúde,  o abrandamento das medidas de restrição a circulação social,  no que foi corroborado pelo governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel ao  admitir que estas cidades, em que até agora não havia se detectado nenhum caso da doença covid19 , pudessem abrandar as medias restritivas desde que mantivessem fechadas as suas fronteiras. Estas duas informações alentadoras e bem fundamentadas não mereceram o devido destaque, permanecendo a ênfase a ideia fixa de que o correto seria o isolamento social indistintamente para todo o território nacional, mantendo todos sobre estresse permanente em decorrência de  uma crise sem nenhuma perspectiva de término.
Em sintonia com nossa linha de raciocínio, está o fato de que hoje, quinta-feira santa, vimos a pouca importância dada pelo noticiário nacional ao significado da Semana Santa, sem dar o devido destaque as celebrações que estavam ocorrendo no mundo todo, a exemplo da que aconteceu na tarde de hoje, quando o Papa Francisco presidiu a Missa da Ceia do Senhor na Basílica de São Pedro sem a presença de fiéis. Esta é uma falha grave, principalmente se consideramos se tratar da principal celebração do ano litúrgico cristão e da grande dimensão da  comunidade cristã que celebra a pascoa em nosso Pais . Por outro lado, mereceu destaque a entrega de ovos de páscoa pelo processo delivery, enfatizando a sua importância nesta fase de isolamento social, ilustrando o procedimento com emocionante reportagem, mas totalmente   na contramão das medidas de proteção veiculadas exaustivamente pela emissora durante esse período do coronavirus em nosso País. Ou seja, aquele presentinho de páscoa,  se não devidamente  submetido aos rigorosos cuidados de assepsia, poderiam  se constituir perigosos vetores de propagação da enfermidade para as pessoas, sobretudo aquelas que estão internas em casa de saúde . O noticiário em nada se reportou a estes cuidados, preocupando-se tão somente em explorar o lado romântico, decorrente da felicidade da pessoa que se encontrava em isolamento ao ser  presenteada com o ovo de pascoa. Assim fica difícil acreditar nos verdadeiros propósitos deste tipo de mídia.
Não podemos desconhecer, muito menos desprezar que a doença do Coronavírus traz impactos negativos ameaçadores não só para a integridade física das pessoas, mas também para sua saúde mental e emocional. Infelizmente a enxurrada de notícias controversas, a maioria alarmantes e a sensação de impotência no controle da pandemia tem feito com que as pessoas se sintam inseguras com relação aos dias futuros. Este medo e ansiedade nos fragiliza e contribui ainda mais para o agravamento dessa atmosfera de sofrimento e insegurança e em nada contribui para superação da atual crise
Por fim, se refletíssemos de forma sensata que, apesar do atraso no início das medidas preventivas em nosso Pais, o Ministro Mandetta tem demostrado competência, segurança e comprometimento com a causa de combate ao coronavirus e que os Governos Estaduais em sua maioria estão adotando medidas racionais em busca da proteção da população. Se estivermos convictos de que estamos seguindo as recomendações da OMS no tocante a higiene corporal e distanciamento social e se fôssemos abastecidos apenas de informações corretas pelos meios de comunicação, poderíamos com certeza enfrentar esta dura realidade de uma   maneira mais tranquila, sem pânico e sem desespero.
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21 comentários:

  1. Excelente texto,considerações pertinentes a tudo e estamos vivendo!Obrigada por partilhar sey saber conosco!

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    1. excelente texto.vou compartilhar.muito esclarecedor

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. Obrigado. Que bom que estamos em sintonia. Abracos

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    5. Eu que agradeço pela importância que você deu a nossa mensagem. Grande abraço

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    6. Desculpe o atraso na comunicação. Eu que agradeço a atenção dispensada a minha postagem. Abracos

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  2. Muito bom texto. Lamentável a ignorância das pessoas que não conseguem entender que simplesmente cuidar da higiene pessoal e respeitar o distanciamento evitaria tantas tristezas

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    1. Obrigado. Sua avaliação é muito importante para mim. Grande abraço

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  3. Realmente! Escutamos vários infectologistas, sendo cada com divulgações diferentes. Os repórteres com notícias repetitivas de sofrimento.
    As repetições nos inquieta. O medo surge, a insônia acontece e acabamos ficando doente antes desse vírus.
    Gostei muito do texto. E pura realidade,

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    1. Obrigado. Fico feliz pela sintonia. A mídia tinha que ter mais respeito ao público e checar a procedência das informações. Grande abraço

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  4. Reflexão muito pertinente, concordo plenamente. Precisamos da verdade aqui no Brasil e tambem regionalizar para podermos nos situar.

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    1. Obrigado Aldete. Muito importante o seu comentário. Abracos

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  5. Perfeita reflexão, texto profundo, contundente, preciso!

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    1. Obrigado. É muito gratificante quando somos compreendidos pela essência do que publicamos . Grande abraço

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  6. Analise perfeita, profunda,criteriosa e abrangente da conjuntura atual.

    A crítica à mídia um primor! Pertinente,lúcida, não dando margem à contradição. Só sinto que será inócua, se chegar ao alvo, porque esse é o real objetivo: gerar o caos, intranquilidade, pânico, conflitos, desviando os seres de seus corações, fonte real de poder e imunidade contra manipulações.

    Parabéns pelo texto, ao nível de Rui Barbosa.

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    1. Obrigado pelo generoso elogio. Fico feliz pela sintonia. Abracos

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  7. Seu olhar sempre atento a tudo que ocorre e como vai repercutir não somente politica e economicamente, mas e sobretudo no ser humano, nos traz uma análise perfeita de como estamos diuturnamente bombardeados por uma mídia que incita as divergências e que supervaloriza as desgraças em detrimento de realçar o que há de belo na vida. Num momento gravíssimo como vive o mundo seria oportuna a somação de esforços. Seria o momento das divergências e disputas serem deixadas de lado em prol de grandes soluções que amenizassem essa crise. Estou tão desconfortável com esta maneira de fazer política e jornalismo que visando o meu equilíbrio emocional, como você bem preconiza em seu artigo, conscientemente estou procurando me abster de ver muitos noticiários.Obrigado por suas considerações que muito nos ajudam a superar esta crise.

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  8. Obrigado Antônia Roza pelo criterioso comentário. Abracos

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  9. A mensagem mostra de forma clara,a importancia e a responsabilidade que a mídia tem em transmitir a população,a notícia, respeitando o sagrado princípio da verdade!
    Parabéns pelo excelente texto!

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