sexta-feira, 11 de março de 2022

 Consequências indiretas da COVID-19



As consequências diretas da ação do coronavirus sobre o organismo humano tem sido bastante destacadas pelos meios de comunicação em função da gravidade das lesões provocadas e da alta taxa de mortalidade alcançada, sobretudo nos momentos de pico da pandemia. No entanto muitos outros efeitos indiretos igualmente graves da pandemia sobre a sociedade em geral não têm merecido o mesmo destaque. Em postagem anterior comentamos que a pandemia provocava em todas as regiões atingidas, graves prejuízos, em diferentes proporções, em várias dimensões da vida social.  Todavia na presente publicação pretendemos focar nossa atenção apenas nas ações indiretas produzidas pela pandemia no campo da saúde de humana.

         Em primeiro lugar queremos ressaltar que, apesar de plenamente favorável ao isolamento adotado nos períodos críticos da pandemia, como importante instrumento para a prevenção da disseminação da enfermidade, o pânico gerado pelos riscos de contrair a COVID-19, fez com que uma parcela considerável da população tentando preservar a vida a qualquer custo, evitasse todo tipo de interação, inclusive aquela relativa a assistência médica. Na maioria dos casos, o acompanhamento médico regular foi quase totalmente suspenso por cerca de dois anos, se limitando os pacientes a procurar apenas serviços de emergência, assim mesmo quando a situação espelhava uma gravidade maior. Merece ressalvar que uma minoria da população mais favorecida economicamente procurou minimizar esses efeitos através de consulta por telemedicina.

 O medo da contaminação nos serviços de saúde, congestionados pelos pacientes acometidos da COVID -19, fez com que os pacientes, sobretudo aqueles aparentemente saudáveis ou assintomáticos suspendessem o acompanhamento regular que faziam com seus médicos. Deve-se ressaltar também que vários profissionais de saúde suspenderam temporária ou definitivamente o exercício de suas funções contribuindo para a quebra da regularidade desse tipo de atendimento.  Esta situação fez com que os pacientes deixassem de fazer o seu habitual check-up, impossibilitando, por conseguinte o acompanhamento adequado de seu quadro clínico-laboratorial, a identificação de um possível agravamento silencioso de doenças crônicas e o diagnóstico precoce de outras patologias graves.

         Uma situação muito comumente observada neste período de pandemia, foi a manutenção da prescrição originalmente feita pelo médico, por um tempo exageradamente prolongado, sem a devida revisão periódica para os devidos reajustes de dose ou modificação de medicamentos. Neste particular, infelizmente constatamos na nossa área de atuação (cardiologia) algumas consequências graves devido a um relaxamento no controle da pressão arterial como acidente vascular cerebral popularmente conhecido como derrame e o enfarto do miocárdio. Estas lamentáveis situações nos estimularam a abordar esse tema como forma de alertar as pessoas para importância da regularização da sua programação de assistência e promoção a saúde.

             Uma série de outras situações causaram prejuízos a saúde humana.  Alguns pacientes tiveram de suspender seus tratamentos fisioterápicos prejudicando a sua reabilitação, crianças portadoras de necessidades especiais interromperam sua programação regular de tratamento, comprometendo o seu desenvolvimento psicomotor. A maioria das pessoas reduziu ou suspendeu seu programa de atividades físicas tornando-se sedentários, promovendo a obesidade e o agravamento de doenças articulares e vasculares

 Além desta falta de contato médico adequado, outros fatores contribuíram para o agravamento destas situações : o afastamento  dos  entes queridos; a redução da frequência aos templos religiosos para praticas espirituais, a interrupção de terapias alternativas; o relaxamento nos cuidados  dietéticos, compensando  a  dor da solidão através do prazer alimentar muitas vezes com alimentos totalmente desaconselháveis ; a tristeza pela perda de familiares e amigos ; o desemprego ou  a diminuição de renda limitando parcial ou totalmente a adoção de medidas para  uma qualidade de vida aceitável diante das imposições da pandemia.  Tudo isso contribui para o aparecimento ou agravamento de vários tipos de enfermidades sobre tudo ansiedade, síndrome do pânico e depressão.

             No atual momento percebemos que, face ao prolongado tempo de isolamento e da imensa tristeza gerada pelo grande número de traumas sofridos pela população durante esta pandemia, as energias da população parecem direcionadas prioritariamente para a retomada das confraternizações e festejos.  Embora perfeitamente compreensível esta reação impulsiva, este retorno açodado não é justificável à luz da razão, pois precisamos retomar a regularidade de nossas atividades através uma programação equilibrada e segura que promova a reconstrução de um projeto de vida saudável. Isto embora seja um iniciativa do cidadão, naturalmente sua concretização não depende exclusivamente  dele,  é preciso que os governantes  tenham a exata consciência deste  estado de coisas para que possam propiciar a sociedade a retomada de sua vida normal, com a implementação de um sistema de serviços adequado  ao atendimento  de suas  demandas ,  através da  ampliação e melhoria do sistema de   assistência médica  regular e  a recuperação do sequelados da COVID-19, de  um programa eficiente de assistência social para  apoio aos que ficaram totalmente desamparados economicamente  e impossibilitados de trabalhar por limitações físicas e sobretudo a manutenção do sistema preventivo de saúde que que evite novas ondas de contaminação por novas cepas do coronavirus de forma tão agressiva e danosa como tem ocorrido nestes   últimos tempos. Até a próxima!

 

 

                            Dr. Luiz Hermínio