Consequências indiretas da COVID-19
As consequências diretas da ação do coronavirus
sobre o organismo humano tem sido bastante destacadas pelos meios de comunicação
em função da gravidade das lesões provocadas e da alta taxa de mortalidade
alcançada, sobretudo nos momentos de pico da pandemia. No entanto muitos outros
efeitos indiretos igualmente graves da pandemia sobre a sociedade em geral não
têm merecido o mesmo destaque. Em postagem anterior comentamos que a pandemia provocava
em todas as regiões atingidas, graves prejuízos, em diferentes proporções, em
várias dimensões da vida social. Todavia na presente publicação pretendemos
focar nossa atenção apenas nas ações indiretas produzidas pela pandemia no campo
da saúde de humana.
Em primeiro lugar queremos ressaltar
que, apesar de plenamente favorável ao isolamento adotado nos períodos críticos
da pandemia, como importante instrumento para a prevenção da disseminação da enfermidade,
o pânico gerado pelos riscos de contrair a COVID-19, fez com que uma parcela considerável da população tentando
preservar a vida a qualquer custo, evitasse todo tipo de interação, inclusive aquela
relativa a assistência médica. Na maioria dos casos, o acompanhamento
médico regular foi quase totalmente suspenso por cerca de dois anos, se
limitando os pacientes a procurar apenas serviços de emergência, assim mesmo quando
a situação espelhava uma gravidade maior. Merece ressalvar que uma minoria da
população mais favorecida economicamente procurou minimizar esses efeitos
através de consulta por telemedicina.
O medo da contaminação nos serviços
de saúde, congestionados pelos pacientes acometidos da COVID -19, fez com que
os pacientes, sobretudo aqueles aparentemente saudáveis ou assintomáticos
suspendessem o acompanhamento regular que faziam com seus médicos. Deve-se
ressaltar também que vários profissionais de saúde suspenderam temporária ou
definitivamente o exercício de suas funções contribuindo para a quebra da
regularidade desse tipo de atendimento. Esta situação fez com que os pacientes
deixassem de fazer o seu habitual check-up, impossibilitando, por
conseguinte o acompanhamento adequado de seu quadro clínico-laboratorial, a
identificação de um possível agravamento silencioso de doenças crônicas e o
diagnóstico precoce de outras patologias graves.
Uma situação muito comumente
observada neste período de pandemia, foi a manutenção da prescrição originalmente
feita pelo médico, por um tempo exageradamente prolongado, sem a devida revisão
periódica para os devidos reajustes de dose ou modificação de medicamentos.
Neste particular, infelizmente constatamos na nossa área de atuação (cardiologia)
algumas consequências graves devido a um relaxamento no controle da pressão arterial
como acidente vascular cerebral popularmente conhecido como derrame e o enfarto
do miocárdio. Estas lamentáveis
situações nos estimularam a abordar esse tema como forma de alertar as pessoas
para importância da regularização da sua programação de assistência e promoção
a saúde.
Uma série de outras situações causaram prejuízos a saúde humana. Alguns pacientes tiveram de suspender
seus tratamentos fisioterápicos prejudicando a sua reabilitação, crianças portadoras
de necessidades especiais interromperam sua programação regular de tratamento, comprometendo
o seu desenvolvimento psicomotor. A maioria das pessoas reduziu ou suspendeu
seu programa de atividades físicas tornando-se sedentários, promovendo a
obesidade e o agravamento de doenças articulares e vasculares
Além desta falta de contato médico adequado, outros fatores contribuíram
para o agravamento destas situações : o afastamento dos
entes queridos; a redução da frequência aos templos religiosos para
praticas espirituais, a interrupção de terapias alternativas; o relaxamento nos
cuidados dietéticos, compensando a dor
da solidão através do prazer alimentar muitas vezes com alimentos totalmente
desaconselháveis ; a tristeza pela perda de familiares e amigos ; o desemprego
ou a diminuição de renda limitando parcial
ou totalmente a adoção de medidas para uma qualidade de vida aceitável diante das
imposições da pandemia. Tudo isso
contribui para o aparecimento ou agravamento de vários tipos de enfermidades
sobre tudo ansiedade, síndrome do pânico e depressão.
No atual momento percebemos que, face
ao prolongado tempo de isolamento e da imensa tristeza gerada pelo grande número
de traumas sofridos pela população durante esta pandemia, as energias da
população parecem direcionadas prioritariamente para a retomada das confraternizações
e festejos. Embora perfeitamente
compreensível esta reação impulsiva, este retorno açodado não é justificável à
luz da razão, pois precisamos retomar a
regularidade de nossas atividades através uma programação equilibrada e segura que
promova a reconstrução de um projeto de vida saudável. Isto embora seja um iniciativa
do cidadão, naturalmente sua concretização não depende exclusivamente dele, é
preciso que os governantes tenham a
exata consciência deste estado de coisas
para que possam propiciar a sociedade a retomada de sua vida normal, com a
implementação de um sistema de serviços adequado ao atendimento
de suas demandas , através da ampliação e melhoria do sistema de assistência médica regular e a recuperação do sequelados da COVID-19, de um programa eficiente de assistência social para
apoio aos que ficaram totalmente
desamparados economicamente e impossibilitados
de trabalhar por limitações físicas e sobretudo a manutenção do sistema
preventivo de saúde que que evite novas ondas de contaminação por novas cepas
do coronavirus de forma tão agressiva e danosa como tem ocorrido nestes últimos
tempos. Até a próxima!
Dr. Luiz
Hermínio